Segurança Pessoal e Estradas na Europa

Aqui vão algumas observações de nossa última viagem à Europa e memórias de viagens anteriores.

Dirigir na Europa é um prazer!

Em nossa viagem de 2012 à Espanha, nosso  carro foi um Peugeot 508 novinho da Avis. Bom e bonito, mas um pouco “banheira” para o gosto brasileiro. Faltavam uns cavalinhos na hora de acelerar. Seu “horse power” não chegava à miséria dos “poneis malditos” que atolam a pickup na propaganda da Nissan no Youtube (http://youtu.be/eMnuyI66sAU), mas faltava emoção. Queria mesmo, aproveitar a vida e pilotar um carrão esporte, mas andam assaltando os turistas na Europa. Por isto, achei melhor não arriscar com veículo que chamasse a atenção.

Eu e minha esposa tivemos três experiências de roubo na Europa. A mais recente aconteceu em Madrid, quando um “trombadinha” tentou nos aplicar o golpe clássico do encontrão seguido do roubo da carteira. Quem caiu foi o atacante, embora tenha acabado de me quebrar o dedão do pé, que já não estava lá essas coisas. Crente na bondade humana pensei tratar-se de um choque acidental. Ajudei o ladrão a se levantar e perguntei-lhe se havia “se molestado” para, intrigado, vê-lo partir em fuga rapidíssima sem nada dizer. A “ficha caiu” quando minha cara metade argumentou didaticamente não ser normal que um indivíduo a correr colida com um transeunte em rua sem movimento e, ainda, que se retire em fuga rápida. No hotel, funcionários assustados confirmaram a tentativa de assalto.

Outra vez, em Aix-en-Provence, quando voltávamos de Roma para Paris, arrombaram nosso carro, levaram algumas coisinhas, dentre as quais uns santinhos comprados no Vaticano. Alguém chamou a polícia. Encontramos a bagagem remexida e a perseguição policial em curso, sirenes e pneus cantando como no cinema. Achamos melhor fugir da cidade para não ter que prestar depoimentos policiais.

Antes do euro, as liras italianas se contavam por centenas de milhares e por milhões, o que complicava os cálculos dos estrangeiros. Por isto, na Itália, roubar turistas no troco era tão popular quanto o futebol. Logo descobrimos um padrão: se na hora de pagar, o vendedor discorria sobre as condições metereológicas, o troco viria menor do que o devido. As quantias subtraídas eram pequenas, o que acentuava o aspecto mais lúdico do que empresarial da iniciativa.

Fantástico…..! Fomos roubados por uma freira no Vaticano! Os santinhos levados pelo gatuno de Aix foram comprados na lojinha de souvenires da Praça de São Pedro. A vendedora, simpática freirinha, na hora de pagar pôs-se a discorrer sobre o céu nublado e a temperatura elevada. Naturalmente faltava troco. Conscientes do pequeno golpe pagamos a conta extra para que o caso se efetivasse e pudéssemos contá-lo o resto de nossas vidas. Cinco dólares foi muito barato em troca da deliciosa história. Não houve “roubo” no sentido estrito, mas um divertido jogo. Sob certo ângulo, nós é que passamos a perna na irmã, que, orgulhosa, acreditava ter nos enganado. Este ponto (quem ganhou?) ficará sempre aberto à discussão, mas o importante é que tanto ela como nós saímos bem satisfeitos do episódio.

A terceira experiência foi perigosa. De Milão para Veneza, em carro alugado com placa vermelha (como que um convite aos assaltos) fomos subitamente fechados e obrigados a estacionar por um sujeito com cara de mafioso, que se dizia policial. Um policial italiano nunca usaria o terno sujo e amassado e um carro tão velho. Olhou os passaportes e nos acusou os sempre suspeitos brasileiros aos berros:

– “brasiliani! Dove sono il dollari, il armi, il droggui?”

Arrancou a bolsa de minha mulher, mas o dinheiro estava escondido. Coloquei-me em superioridade psicológica, pois fingi não entender seu italiano e o obriguei a balbuciar em inglês. É impressionante como, tanto tempo após a última guerra mundial, a língua inglesa ainda impõe respeito nos países então ocupados. Intimou-nos a sair da movimentada rodovia para investigações em uma delegacia de polícia certamente inexistente, onde o melhor que poderia acontecer seria sairmos vivos. Recusei-me a abandonar a estrada e exigi o direito de telefonar para a embaixada brasileira. Depois de muita ameaça, declarou-nos “buonna gente” e arrancou no seu calhambeque.

Recentemente, uns adolescentes de posse de um taxi tentaram me assaltar em Instambul. Pus a carteira no bolso, recusei-me a entrega-la e pulamos para fora do carro estacionado. É comum , também a rápida troca de notas por outras da mesma cor, na hora do troco, fazendo o passageiro pensar que se enganou e entregou  uma nota de menor valor. Nesta cidade, o melhor é não usar taxis, pois os motoristas falam apenas turco e usam este fato para se fazer de incompreendidos e, por isto, exigir preços muito acima do marcado no taximetro. Se não houver alternativa tentem motoristas já mais idosos.

Uma questão que me assustou na Espanha foi a do controle de velocidade. O País possui uma excelente rede de estradas e dirigir na Europa pode ser uma delícia. A faixa da direita para caminhões e veículos mais lentos, a do centro para os de velocidade média, aí por uns 120 km/h. Na faixa da esquerda trate de sair da frente, pois lá vem os Mercedes, BMWs e Jaguars a crescer no retrovisor a mais de 200 km por hora. Se o carro permite, você é estimulado a correr. Viagem rápida, divertida e segura.

Hoje, só nas autobahns alemãs a velocidade é livre, pois os demais países resolveram controlá-la “para a nossa segurança”, apesar das estradas ótimas sem gente e sem bichos a atravessá-las, dos carros excelentes e das distâncias curtas. As rodovias espanholas estão povoadas de câmeras de velocidade. Os policiais avisados por rádio obrigam os pobres motoristas a pagar, ali mesmo na estrada, uma pesada multa em dinheiro. Há relatos de gentis homens da lei que se dispõe a acompanhar os transgressores até uma caixa automática para retirarem o dinheiro. Meio estranho…

Por isto, se o leitor for dirigir na Espanha compre um programa de aviso de radares para o GPS de seu smartphone (O aplicativo “Avisador Radares” é muito eficiente e custa baratinho). A faixa da esquerda continua a ser usada para alta velocidade graças a esses dispositivos. Por falar em GPS, você merece um na Europa e em todo lugar. Com o GPS acaba o estresse de se perder, de andar sem querer na contramão, ou de ter de perguntar o caminho em língua estrangeira. Ultimamente tinha deixado o carro de lado e andava só de trem, mas o GPS me trouxe de volta a alegria de dirigir na Europa.

Boa viagem!

2017-11-02T19:15:45-02:00By |Viagem|