Após cerca de quatro séculos de purgatório, devido a seu envolvimento com crimes coloniais portugueses, Luís de Camões foi libertado, perdoado devido à excelência de sua obra poética amada, indistintamente, por anjos e demônios. Resolveu, então, dar uma volta pelas antigas possessões lusas. Observando a cena brasileira atual, embora lanhado e chamuscado por séculos de fogo e chibata, quis desesperadamente retornar ao abismo, pleito que lhe foi negado pelo burocrata capeta de plantão. Alquebrado não teve forças para versejar. Resolveu, portanto, adaptar algumas de suas antigas rimas à situação do Brasil, impressionado que ficou com a continuidade entre FHC e Lula:
Após Itamar da terra surge o brando
(Vede da natureza o desconcerto),
Remisso e sem cuidado, algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto;
Que, vindo o americano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente;
Que um fraco rei faz fraca a forte gente.
(Os Lusíadas, do canto terceiro, 138)
Vós que sublimastes a esperança
De Luis Inácio, novo rei de raiz pobre,
Que chegou ledo, em risos, sem tardança,
Pera dar andança à obra nefasta e pouco nobre;
Pois se, com os seus descuidos e pecados,
Fernando, em tal fraqueza assim vos pôs,
Não vos torne vossas forças o Rei novo,
Se é certo que co igual rei não muda o povo.
(Os Lusíadas, do Canto Quarto , 17)